domingo, 27 de maio de 2012

*Breve observação sobre a descrição etnográfica na obra Argonautas do Pacifico Ocidental, Malinowski.



Neste comentário não vamos falar sobre o Kula ou dos nativos em si, mas iremos fazer um comentário sobre a visão de Malinowski em relação aos mesmos. 
É indiscutível a contribuição de Malinowski para a antropologia moderna, a preocupação de sensibilização em relação à outra cultura que é aparentemente diferente de sua civilização. Na obra Argonautas do Pacifico Ocidental o autor surpreende com uma nova visão de fazer antropologia, compreendendo uma determinada cultura diferente da sua.
Malinowski em busca de naturalizar a cultura dos nativos esquece-se de detalhes que poderiam enriquecer mais o seu trabalho. Quando uma pessoa leiga entra em contato com o livro, sente a sensação a qual Malinowski queria passar, que é não ver tanta diferença ente a sua cultura e a dos nativos, porém a diferença existe. Então a obra de Malinowski é uma mentira? Com certeza não. A ideia de aproximação de cultura é fundamental para o maior conhecimento de outros povos e a quebra de preconceitos. A forma descritiva de Malinowski só está maquiada em relação à realidade. Um texto de fácil compreensão e super empolgante até perceber-se que existe uma falta de realidade. Embora seja importante aceitação de uma cultura diferente, não se pode deixar de ser realista na comparação com a sua.
A comparação é a chave, se a civilização nativa é próxima a civilização dos brancos, por que não apresentar as duas, como forma de comparação? Mostrando o ponto de vista que uma pessoa leiga teria, e a que ele queria demonstrar, e assim fazendo uma ligação coerente. A prova de más impressões que uma pessoa de uma diferente cultura teria dos nativos é o famoso Diário do próprio Malinowski. Veja o contraste. Primeiramente uma citação da obra e depois do Diário:


“... as sociedades nativas têm uma organização bem definida, são governadas por leis, autoridades, e ordem em suas relações públicas [...] podemos contatar que nas sociedades nativas a uma existência de um entrelaçado de deveres, funções e privilégios intimamente associado a uma organização tribal” (Malinowski, 1978 pág. 23)

Diário:

“Pensei na civilização, angustiado. (…) A casa de Malvern agora parece o paraíso sobre a terra. (Malinowski, 1997, pág.181).”
“Havia momentos em que eu tinha a impressão de que o mar é mais bonito quanto o vemos de um ambiente civilizado (Malinowski, 1997, pág. 81).”

“Meu desapreço por eles, minha saudade da civilização" (Malinowski 1997 pág. 184)

Nem mesmo Malinowski foi diferente de uma célebre autoridade que ele cita discordando:

“Estamos muito longe de uma afirmação feita há muitos anos por uma celebre autoridade que, ao responder uma pergunta sobre as maneiras e os costumes dos nativos afirmou: ‘Nenhum costume, maneiras horríveis’” (Malinowski, 1978 pag. 23) 

Pode-se observar que é normal ter certas más impressões, porém podem ser justificadas quando explicadas não negando suas contradições.
Para concluir também pode ser visto que Malinowski tentou passar uma imagem dos nativos que nem ele mesmo tinha, mas mesmo assim não deixa de ser uma influência para muitos antropólogos.


Nayanny de Lima.

Referências Bibliográficas 
MALINOWSKI, Bronislaw. Um diário no sentido estrito do termo. Rio de Janeiro/São Paulo: Record, 1997.
MALINOWSKI, B.  Argonautas do Pacífico Ocidental, Col. Os Pensadores, S. Paulo, Ed. Abril, 1978 (Introdução)

Localização das Ilhas Trobriand: 

 Brenda Rodrigues.

Um comentário:

  1. Não se deve confundir o diário de campo com o diário pessoal dele. Obviamente que no diário pessoal ele encara o desabafo por estar longe de seu país e do que lhe é familiar. E também parece óbvio que no diário de campo ele deve registrar as impressões da sociedade que está estudando e não deixar que as suas sensações de desconforto alterem a realidade registrada.

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