terça-feira, 29 de maio de 2012

*Fichamento do texto: História da Antropologia

Na Grã-Bretanha, a ruptura com o passado foi radical. Radcliffe-Brown e Malinowski proclamaram uma revolução intelectual e criticaram acerbamente alguns dos seus professores. (p. 51§ 3)

As vezes, antropólogos sociais ingleses, principalmente, sustentam que Radcliffe-Brown e Malinowski, mais ou menos independentemente, criaram a antropologia moderna. Essa talvez fosse a impressão na metade do século, quando a antropologia americana se subdividira em muitas áreas especializadas e os alunos de Mauss ainda não haviam se destacado. Em contraste, a "ciência do parentesco" ("kinshipology")(capítulos 4 e 5) britânica parecia firmar-se sobre um método criado por Malinowskie uma teoria desenvolvida por Radcliffe-Brown, consolidando-se como uma "ciênciada sociedade".(p. 52 § 2)



Argonauts ..., a primeira grande obra de Malinowski, continua sendo também a mais famosa. o livro foi prefaciado por Sir James Frazer, que não poupou elogias ao jovem polonês, claramente inconsciente de que, num sentido acadêmico, ele estava assinando sua própria sentença;a de morte. O volumoso livro e escrito com fluência. [...] Contemporâneo e conterrâneo do romancista Joseph Conrad, Malinowski produziu informações  do "coração das trevas", na forma de imagens matizadas e naturalistas dos trobriandeses, os quais no fim emergem não como espetaculares, exóticos, nem como "radicalmente diferentes" dos ocidentais, mas simplesmente como diferentes. (p. 56 § 2)

De forma mais convincente do que qualquer argumento teórico, a obra de Malinowski revelou o absurdo de um projeto comparativo que se propusesse a comparar características individuais. De agora em diante, contexto e inter-relações seriam qualidades essenciais de qualquer explicação antropológica. (p. 57 § 3)



De modo geral, os antropólogos posteriores a Malinowski receberam suas concepções te6ricas com menos entusiasmo do que seus métodos e sua etnografia. Sua posição teórica era basicamente eclética, mas seguindo os padrões correntes ele denominou seu programa de funcionalismo. Todas as praticam e instituições sociais eram funcionais no sentido de que se ajustavam num todo operante, ajudando a mantê-lo. Diferentemente de outros funcionalistas que seguiam Durkheim, porem, para Malinowski o objetivo ultimo do sistema eram os indivíduos, não a sociedade. (p. 57 § 4)


Isso era individualismo metodol6gico sob outro disfarce, e num clima acadêmico coletivista dominado pelos durkheimianos, o programa a não teve boa acolhida Durante algumas décadas depois de sua morte a estrela de Malinowski continuou seu ocaso, ate que a desilusão com a "Grande Teoria" tomou conta de todos durante a década de 1970, fato que o levou a reabilitação em comunidades antropol6gicas nos dois lados do Atlântico - às custas do seu colega e rival Radcliffe-Brown. Malinowski chamou a atenção para o detalhe e para a importância de captar o ponto de vista do nativo, e parte de sua reação contra seus predecessores imediatos nasceu de um profundo ceticismo com relação a teorias ambiciosas. Percebemos aqui a semelhança com Boas, reflexo da educação alemã de ambos. Malinowski se distinguia de Boas, porem, em sua relutância em envolver-se com qualquer forma de reconstrução histórica. Com Radcliffe-Brown de empreendeu uma campanha antievolucionaria- e anti-hist6rica - tão bem-sucedida que o tema ficou mais ou menos proibido na antropologia britânica durante quase meio século. (p. 58 § 1)


Malinowski se autodenominava funcionalista, mas suas idéias diferiam fundamentalmente do programa rival do estrutural-funcionalismo. Para Malinowski, o individuo era o fundamento da sociedade. Para os estruturais-funcionalistas durkheimianos o individuo era um epifenômeno da sociedade e de pouco interesse intrínseco o que interessava era inferir os elementos da estrutura social. Essas duas linhagens da antropologia social britânica - funcionalismo biopsicológico e estrutural-funcionalismo sociológico - evidenciam urna tensão básica na disciplina entre o que mais tarde foi chamado de agência e estrutura. O individuo tem agência no sentido de que ele e um criador da sociedade. A sociedade impõe estrutura sobre o individuo e limita suas opções. Como mostra Giddens (1979), os dois pontos de vista são complementares. Mas isso não foi percebido pela antropologia britânica do período entre as duas grandes guerras. O funcionalismo de Malinowski e o estrutural-funcionalismo de Radcliffe-Brown foram vistos como diametralmente opostos. (p. 58 § 2)


Pouco depois dessa publicação, Radcliffe-Brown leu a obra-prima de Durkheim, The Elementary Forms of Religious Life. Ele então ministrou uma longa serie de palestras sobre Durkheim em Oxford, e quando sua monografia, Andaman Islanders, foi finalmente publicada em 1922, mais do que qualquer outra coisa ela parecia uma demonstração admirável de sociologia durkheimiana aplicada a materiais etnográficos. (p. 59 §1)Como Boas e Malinowski, Radcliffe-Brown passou os anos intermediários entre as duas grandes guerras conquistando adeptos e desenvolvendo instituições acadêmicas dedicadas a nova antropologia. Diferentemente deles, porem, ele passou longos períodos de sua vida profissional como nômade acadêmico, desenvolvendo e aperfeiçoando centros antropol6gicos importantes na Cidade do Cabo, Sydney e Chicago. [...] A antropologia inglesa do período entre as duas grandes guerras passou assim por duas fases: primeiro, um período dominado pela etnografia detalhada com ênfase regional no Pacifico, depois, um período volta do para a análise estrutural durkheimiana, com ênfase na África. (p.59 § 2)


Radcliffe-Brown foi seguidor de Durkheim ao considerar 0 individuo principalmente como produto da sociedade. Enquanto Malinowski preparava seus alunos para irem a campo e procurarem as motivações humanas e a lógica da ação, Radcliffe-Brown pedia aos seus que descobrissem princípios estruturais abstratos e mecanismos de integração social. Embora o contraste seja frequentemente exagerado nos relatos hist6ricos, as vezes 0 resultado foram estilos de pesquisa consideravelmente diferentes.(P. 59 § 3)


Os "mecanismos" que Radcliffe-Brown esperava identificar eram de origem durkheimiana, análogos talvez as representações coletivas de Durkheim. Mas Radcliffe-Brown alimentava esperanças explicitas de transfomar a antropologia numa ciência “real”, um objetivo que provavelmente não fazia parte dos planos de Durkheim.(p.59 § 4)


Na obra de Radcliffe-Brown a estrutura social existe independentemente dos atores individuais que a reproduzem. As pessoas reais e suas relações são meras agenciações da estrutura, e o objetivo ultimo do antropólogo é descobrir sob o verniz de situações empiricamente existentes os princípios que regem essa estrutura. Esse modelo formal, com suas unidades nitidamente definidas e logicamente relacionadas, demonstra claramente a intenção "cientifica" do mestre. (p.60 § 1)


A estrutura social pode ser ainda mais desdobrada em instituições discretas ou subsistemas, como os sistemas para distribuição e transmissão da terra, para a solução de conflitos, para a socialização, para a divisão do trabalho na família, etc. - os quais contribuem todos para a manutenção da estrutura social como um todo. De acordo com Radcliffe-Brown, essa e a função é a causa da existência desses sistemas. Temos aqui um problema. Radcliffe-Brown parece afirmar que as instituições existem porque elas mantêm o todo social; isto e, que sua função e também sua causa. A relaçao de causa e efeito se toma vaga e ambígua, e esse raciocínio "tautológico" ou"para trás" e em geral visto com restrições nas explicações cientificas. Essa crítica a, porem, se aplica  igualmente a todas as formas de funcionalismo, inclusive, mas não limitada, à variação de Radcliffe-Brown sobre o tema. (p. 60 § 2)


A articulação feita por Radcliffe-Brown entre teoria social durkheimiana e  materiais etnográficos e suas ambições no interesse da disciplina geraram um programa de pesquisa novo e atraente a que afluíram pesquisadores talentosos, fato que por sua vez aumentou o prestigio da teoria. [...] O uso durkheimiano, por parte de Radcliffe-Brown, da antiga ideia de Maine do parentesco como sistema "jurídico" de normas e regras tomou possível explorar cabalmente o potencial analítico do parentesco. Um sistema de parentesco era facilmente compreendido como uma constituição não escrita de interação social, um conjunto de regras para a distribuição de direitos e deveres. O parentesco, em outras palavras, era novamente uma instituição fundamental, agora como motor (ou coração ao,para usar as analogias biológicas preferidas de Durkheim) de uma entidade auto-sustentável e integrada organicamente, e todavia abstrata, chamada estrutura social (um termo que, a propósito, foi usado pela primeira vez por Spencer). (p.60 § 3)


O próprio Radcliffe-Brown não simpatizava particularmente com a palavra "cultura". Para ele, a questão central não era o que as nativos pensavam, aquilo em que acreditavam, como ganhavam a vida ou como haviam chegado a ser o que eram, mas sim como sua sociedade era integrada, as "forças",que a mantinham coesa como um todo. (p. 61 § 1)


Radcliffe-Browl1 criticava severamente a "historia conjetural" dos evolucionistas. Na visão dele, arranjos contemporâneos existiam porque eram funcionais no presente, certamente não como "sobreviventes" de épocas passadas. Eles faziam sentido no presente ou então não tinham sentido nenhum. Ele também escarnecia das reconstruções freqüentemente fantasiosas apresentadas por historiadores culturais e difusionistas. Onde não existiam evidencias não havia motive para especular. Aqui Malinowski e Radcliffe-Brown concordavam perfeitamente. (p. 61 § 2)


Assim, Boas e Mauss concordavam em que não havia conflito profundo entre história cultural e estudos sincrônicos, e por isso ambos se interessavam pelo difusionismo, enquanto Radcliffe-Brown e Malinowski consideravam esses interesses como "não científicos". Essa divisão reflete claramente o fato de que dois antropólogos britânicos estavam envolvidos numa "revolução", ao passo que na França e nos Estados Unidos predominava uma atmosfera de continuidade. Mas outras divisões eram igualmente importantes. Radcliffe-Brown e Mauss concordavam em que seus estudos faziam parte de urn grande projeto de sociologia comparada, enquanto Boas, dos quatro 0 menos relacionado com a sociologia, desconfiava da "ciência francesa" que Radcliffe-Brown pregava em Chicago e duvidava profundamente do metodo comparativo. De sua parte, Malinowski parece ter evitado toda forma de comparação. Nesse caso, a herança germânica  de Malinowski e Boas une-os claramente contra a "escola francesa". Mas essa unidade também e incompleta. Enquanto Radcliffe-Brown e Mauss eram coletivistas metodológicos comprometidos que investigavam os segredos da "sociedade como um todo", Boas e Malinowski eram particularistas (alemães). Oparticularismo de Malinowski, porem, voltava-se para as necessidades físicas do individuo, ao passo que Boas acreditava na primazia da cultura. (p. 66-67 § 1) 


Nayanny de Lima
Fonte Bibliográfica: 

ERIKSEN, Tomas H. Nielsen, FINN S. História da Antropologia. 4 ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2010 ( cap.3)

domingo, 27 de maio de 2012

*A vida Sexual dos Selvagens - Malinowski





Ao introduzir o texto, Malinowski nos fala sobre a escolha do título dizendo que o intuito de ser natural e simples é para contribuir com a reabilitação do termo sexual, de que tanto se tem abusado. E para revelar o que realmente o leitor irá encontrar. O autor faz uma certa comparação, em relação aos europeus, ao dizer que o sexo para os habitantes da ilhas do pacífico não é uma simples questão fisiológica. Ele implica o amor e o namoro. É o núcleo das instituições e inspira a arte. Constitui a fonte de sua magias e sortilégios.

A exposição dos fatos essenciais da vida, segundo o autor, devem ser expostos de maneira simples e completa, embora numa linguagem científica. Com esse procedimento, a pesquisa não ofenderá os leitores. É interessante a justificação de Malinowski sobre as comparações que iremos encontrar em seu texto. O autor diz que recorreu a elas, pois para explicar fatos estranhos é indispensável traduzi-los em fatos familiares. Explica que a arte e a dificuldade do trabalho de campo sociológico consiste em partir dos elementos familiares na cultura estrangeira, e aos poucos transformar o estranho e o diferente em um esquema compreensível.

Malinowski delimita a sua abordagem no capítulo I: "O homem e a mulher nas ilhas Trobiand, suas relações no amor, no casamento e na vida tribal". A atração pelo outro sexo e os episódios passionais que dela decorrem, para uma pessoa de qualquer sociedade, constituem-se nos acontecimentos mais significativos de existência humana, afirma o autor. Desse modo, aquilo que significa a suprema felicidade para o indivíduo deve ser considerado um fator básico para o estudo cientifico da sociedade humana.

As práticas amorosas, segundo o autor, são influenciadas pelo modo como os sexos se encaram um ao outro, em público ou em particular. Também são influências de suas situações respectivas em leis e nos costumes tribais, pela maneira como participam de jogos e divertimentos, e pela parcela que cabe a cada um na labuta do dia-a-dia. Malinowski chama atenção para as relações de um trobiandês com seu pai, sua mãe e o irmão de sua mãe, por ser o núcleo do sistema direto materno ou matrilinearidade, e também por esse sistema governar toda a vida social dos nativos.

Ao iniciar o capítulo V, o autor nos diz que o marido e a mulher, na ilhas Trobriand, levam sua vida em estreito companheirismo. Trabalham lado a lado, partilham alguns dos deveres domésticos e passam uma boa parte do seu lazer juntos. Reciprocidade e harmonia reinam em suas relações. Os meses iniciais do casamento não apresentam, para os nativos, interesses predominantemente sexuais. A mudança de status social e a alteração que se processa em suas relações são as suas maiores preocupações. As primeiras noites do casamento constituem um período de abstinência sexual, pois o casal passandoa morar na casa dos pais se sentem constrangidos diante dessa situação. É interessante a abordagem de assuntos comuns aos nossos dias, como o ciúme e o adúlterio. Esses que são os dois fatores da vida tribal que mais põem à prova o vínculo matrimonial dos nativos.

  O autor nos conta histórias que provam a existência de fortes paixões e sentimentos complexos entre os nativos. Examinando o casamento sob seu aspecto doméstico e do ponto de vista das obrigações econômicas e legais que ele impõem à família da mulher ao casal e falando sobre os efeitos decorrentes da poligamia do chefe exercidos sobre a vida pública e política, é o  resumo do capítulo V para o próprio autor.A pesquisa de Malinowski sobre "A vida sexual dos selvagens"  nos incentiva a uma possível etnografia sobre práticas sexuais atuais que causam preconceitos em nossa sociedade. Durante a leitura, percebemos a preocupação do autor em não distinguir o que é bom ou ruin, mas nos transmitir os reais valores em cada atitude cultural dos nativos.

Brenda Rodrigues.

 (A pesquisa de Malinowski foi realizada no Noroeste da Melanésia)



Fonte Bibliográfica: 
MALINOWSKI, Bronislaw. A vida Sexual doas Selvagens. Rio de Janeiro: F. Alves , 1982.

*Breve observação sobre a descrição etnográfica na obra Argonautas do Pacifico Ocidental, Malinowski.



Neste comentário não vamos falar sobre o Kula ou dos nativos em si, mas iremos fazer um comentário sobre a visão de Malinowski em relação aos mesmos. 
É indiscutível a contribuição de Malinowski para a antropologia moderna, a preocupação de sensibilização em relação à outra cultura que é aparentemente diferente de sua civilização. Na obra Argonautas do Pacifico Ocidental o autor surpreende com uma nova visão de fazer antropologia, compreendendo uma determinada cultura diferente da sua.
Malinowski em busca de naturalizar a cultura dos nativos esquece-se de detalhes que poderiam enriquecer mais o seu trabalho. Quando uma pessoa leiga entra em contato com o livro, sente a sensação a qual Malinowski queria passar, que é não ver tanta diferença ente a sua cultura e a dos nativos, porém a diferença existe. Então a obra de Malinowski é uma mentira? Com certeza não. A ideia de aproximação de cultura é fundamental para o maior conhecimento de outros povos e a quebra de preconceitos. A forma descritiva de Malinowski só está maquiada em relação à realidade. Um texto de fácil compreensão e super empolgante até perceber-se que existe uma falta de realidade. Embora seja importante aceitação de uma cultura diferente, não se pode deixar de ser realista na comparação com a sua.
A comparação é a chave, se a civilização nativa é próxima a civilização dos brancos, por que não apresentar as duas, como forma de comparação? Mostrando o ponto de vista que uma pessoa leiga teria, e a que ele queria demonstrar, e assim fazendo uma ligação coerente. A prova de más impressões que uma pessoa de uma diferente cultura teria dos nativos é o famoso Diário do próprio Malinowski. Veja o contraste. Primeiramente uma citação da obra e depois do Diário:


“... as sociedades nativas têm uma organização bem definida, são governadas por leis, autoridades, e ordem em suas relações públicas [...] podemos contatar que nas sociedades nativas a uma existência de um entrelaçado de deveres, funções e privilégios intimamente associado a uma organização tribal” (Malinowski, 1978 pág. 23)

Diário:

“Pensei na civilização, angustiado. (…) A casa de Malvern agora parece o paraíso sobre a terra. (Malinowski, 1997, pág.181).”
“Havia momentos em que eu tinha a impressão de que o mar é mais bonito quanto o vemos de um ambiente civilizado (Malinowski, 1997, pág. 81).”

“Meu desapreço por eles, minha saudade da civilização" (Malinowski 1997 pág. 184)

Nem mesmo Malinowski foi diferente de uma célebre autoridade que ele cita discordando:

“Estamos muito longe de uma afirmação feita há muitos anos por uma celebre autoridade que, ao responder uma pergunta sobre as maneiras e os costumes dos nativos afirmou: ‘Nenhum costume, maneiras horríveis’” (Malinowski, 1978 pag. 23) 

Pode-se observar que é normal ter certas más impressões, porém podem ser justificadas quando explicadas não negando suas contradições.
Para concluir também pode ser visto que Malinowski tentou passar uma imagem dos nativos que nem ele mesmo tinha, mas mesmo assim não deixa de ser uma influência para muitos antropólogos.


Nayanny de Lima.

Referências Bibliográficas 
MALINOWSKI, Bronislaw. Um diário no sentido estrito do termo. Rio de Janeiro/São Paulo: Record, 1997.
MALINOWSKI, B.  Argonautas do Pacífico Ocidental, Col. Os Pensadores, S. Paulo, Ed. Abril, 1978 (Introdução)

Localização das Ilhas Trobriand: 

 Brenda Rodrigues.

domingo, 13 de maio de 2012

* Principais diferenças entre o funcionalismo de Malinowski e o de Radcliffe - Brown




         A escola antropológica inglesa da primeira metade do século XX se dividiu praticamente entre grupos encabeçados por dois antropólogos: Malinowski e Radcliffe-Brow. Apesar de ambos serem adeptos do funcionalismo, existem especificidades que definiam cada um. A idéia de função do primeiro, que recebeu influência de Wilhelm Wundt, estava relacionada à satisfação de necessidades individuais enquanto o segundo, seguidor de Durkheim, acreditava que a função existe independente dos “atores individuais”, estando ligada à manutenção da vida social, das redes de conexões entre pessoas.
      As concepções também eram diferentes no sentido de que, para Malinowski, o individuo era responsável pela existência das instituições da sociedade, sendo o “motor” que fazia com que as mesmas se movimentassem, mas, para Radcliffe-Brow, as instituições e a estrutura social eram autônomas com relação ao indivíduo, que apenas possuía um papel secundário, sendo mais importante o estudo da estrutura. 

Renato Ferreira. 

Referência Bibliográfica:
ERIKSEN, Thomas Hylland; NIELSEN, Finn Sivert. História da Antropologia. Petrópolis/RJ: Vozes, 2010.

RADCLIFFE-BROWN,  A. R. "On the Concept of Function in Social Science", American Anthropologist, V 01. 37 (julho-setembro de 1935), p. 394402. Disponível: Extraído de: PIERSON, Donald. 1970. Estudos de organização social – Tomo II: leituras desociologia e antropologia social. São Paulo: Martins. p. 220-230.

* Função Social



Para definir o conceito de função social, Radcllffe-Brown, no texto Sobre o Conceito de “Função” em Ciência Social, faz uma analogia com um organismo biológico. Este constitui um “todo integrado”, composto por células e fluídos intersticiais, dispostos numa estrutura, ou seja, numa rede de relações entre diferentes partes, entre entidades. O conceito de vida diz respeito à permanência, ao funcionamento dessa estrutura, mesmo que aconteçam mudanças nos seus componentes, nas suas entidades, desde que não comprometam a existência dessa rede de relações.
            Cada órgão, tecido e célula, dentro de um organismo, possui uma função, isto é, apresenta um papel no processo de manutenção da estrutura vital.
            Do ponto de vista social, o organismo, o todo integrado, é substituído pela sociedade, as células e os fluídos intersticiais por unidades de seres humanos. A estrutura é estabelecida por uma série de relações sociais entre diferentes indivíduos ou grupos organizados que garantem a sobrevivência da vida social, mesmo que aconteça a exclusão de elementos que faziam parte dessa estrutura (mortes, por exemplo) e a inserção de novos (nascimentos, imigração). A vida social, por sua vez, diz respeito à permanência da estrutura. E a função corresponde ao papel, à ajuda que uma atividade desempenha no processo de conservação da vida social, da vasta rede de conexões.
            A função biológica e social, entretanto, divergem em dois pontos: primeiro, diferente da morfologia e da fisiologia animal que podem ser estudadas de forma separada, a morfologia e a fisiologia social, com raras exceções, só podem ser analisadas em conjunto, O segundo ponto, diz está relacionado a mudança do tipo estrutural. Aquela, em hipótese nenhuma, sofre alteração; esta, ao contrário, historicamente, pode sofrer, mas sem romper com o processo de “continuidade”.
            A idéia de função, a hipótese de Radcllffe-Brown, traz consigo a idéia de unidade social, ou seja, os diferentes membros do sistema social agem de forma harmônica e com uma lógica, sem trazer conflitos persistentes e impossíveis de serem resolvidos. 

Renato Ferreira.


Referência Bibliográfica:
RADCLIFFE-BROWN,  A. R. “On Social Structure", The Journal of the Royal
Anthropological Institute, Vol. LXX, Parte I, 1940. Traduzido por Asdrúbal Mendes Gonçalves. Disponível em: < http://issuu.com/ielzin/docs/estrutura_social__radcliffe-brown_ >

RADCLIFFE-BROWN,  A. R. "On the Concept of Function in Social Science", American Anthropologist, V 01. 37 (julho-setembro de 1935), p. 394402. Disponível: Extraído de: PIERSON, Donald. 1970. Estudos de organização social – Tomo II: leituras de sociologia e antropologia social. São Paulo: Martins. p. 220-230.

*Estrutura Social (2)- Radcliffe Brown


    De acordo com Radcllffe-Brown, no texto Estrutura Social, a estrutura social, que é considerada pelo mesmo com a “parte mais fundamental” da antropologia social, significa um conjunto complexo de conexões entre seres humanos, que possibilita a união destes. Em outras palavras, a estrutura diz respeito a “todas as relações sociais de pessoa para pessoas”, a qual é responsável por dá origem aos fenômenos sociais, como por exemplo a estrutura de parentesco.
      Essas relações não são apenas internas, acontecendo no interior de uma comunidade, mas externas, entre povoados e cidades vizinhas, e mesmo entre todo o mundo, tendo em vista que são raras as sociedades que se encontram isoladas.
     A estrutura social, diferentemente da estrutura orgânica, não é estática, mas sim dinâmica, mudando conforme a vida social, podendo passar por transformações substâncias, como no caso das revoluções, mas ainda preservando uma parte de sua rede de relações
      Cada ser humano, dentro de uma estrutura social, possui uma personalidade social, ou seja, desempenha uma ou várias “posições” numa estrutura. Uma mesma pessoa é “um complexo de relações”, podendo ser um cidadão, empregado ou empregador, eleitor, um membro de sindicato ou partido político, etc..

     Renato Ferreira. 

Fonte Bibliográfica:

RADCLIFFE-BROWN,  A. R. “On Social Structure", The Journal of the Royal
Anthropological Institute, Vol. LXX, Parte I, 1940. Traduzido por Asdrúbal Mendes Gonçalves. Disponível em: < http://issuu.com/ielzin/docs/estrutura_social__radcliffe-brown_ >

RADCLIFFE-BROWN,  A. R. "On the Concept of Function in Social Science", American Anthropologist,V 01. 37 (julho-setembro de 1935), p. 394402. Disponível: Extraído de: PIERSON, Donald. 1970. Estudos de organização social – Tomo II: leituras de sociologia e antropologia social. São Paulo: Martins. p. 220-230.

*Estrutura Social - Radcliffe Brown


Com uma forte influência durkeimiana, Radclife-Brown, adota como objeto de estudo da antropologia social a Estrutura Social, como teoria fundamental  para se entender o funcionamento da sociedade, utilizando-se de métodos semelhantes aos das ciências físicas e biológicas para compreender  as relações de associações entre organismos individuais. Para Brown o conceito de Estrutura Social é o mais adequado para se compreender a realidade concreta, já que este conceito, segundo ele, nas observações diretas pode-se perceber que existe de fato uma correlação entre o conceito e a realidade, onde a estrutura social mostra-se ocupar de maneira consistente dos fenômenos sociais.
Brown define Estrutura social como, sendo a rede de relações complexa que cria laços entre os seres humanos. Essas relações se dão em um todo integrando, o qual ele chamou-o de organismo social, fazendo uma analogia ao organismo dos seres vivos, estudado nas ciências naturais. Em outras palavras, a estrutura social é estabelecida por uma série de relações sociais entre os indivíduos, em um todo integrado  de maneira organizada, com a finalidade de garantir a estabilidade e a sobrevivência  de um determinado grupo ou de uma determinada sociedade.
Ele considera dois aspectos relevantes para se caracterizar o termo “estrutura social”. São eles:
a.    As relações sociais de pessoa a pessoa, como por exemplo, a relação de parentesco, estudado pelo próprio Brown.
b.    A diferenciação de indivíduos e de classes  e seu papel social.
Na concepção browniana  nos estudos de estrutura social, a realidade concreta que se deve apreender é o conjunto de relações existente sincronicamente  que cria laços entre  os seres humanos, formando assim uma rede complexa de relacionamento integrado dentro de um organismo social.
            Para Brown, assim como nos seres vivos que há um dinamismo em sua estrutura orgânica, na vida social não é diferente. Ele afirma que na sociedade existem duas formas estruturais na realidade concreta: a estrutura real social, que pode sofrer transformações de ano para ano ou de dia para dia, quando, por exemplo, novas pessoas ou grupos de pessoas entram na sociedade por via de nascimento ou imigrações, ou saem por via de mortes ou emigrações, sendo esta o núcleo mais flexível e menos coeso da sociedade e que pode trazer maiores dificuldades ao antropólogo, no que se refere ao seu trabalho de campo. E por outro lado, a forma estrutural geral, cuja, transformações se dão de forma lenta, sendo esta o nível mais coeso e mais sólido da sociedade, e que pode gerar menos dificuldade ao antropólogo, no que se alude às observações dos fenômenos sociais, e consequentemente a coleta de dados.
Para Brown, a vida social e o funcionamento da estrutura, são fatores primordiais para a continuidade e a manutenção da estrutura social. Este funcionamento se daria por intermédio de atividades, as quais ele definiu como sendo, um processo realizado por um ou mais unidades sociais, com o objetivo de manter as condições necessárias de existência do organismo social. Está correlação, Brown denominou-a de “função”.

O método adotado por Brown na antropologia social, o método comparativo, empregado por Durkheim na sociologia. Segundo Brown, a comparação entre sociedades seria importante ao antropólogo, no sentido de conhecer as semelhanças e as diferenças entre elas.

Aurélio Cassiano.
Fonte Bibliográfica:



MALINOWSKI, Bronislaw  e Brown Radcliffe. História da  Antropologia. Editora Vozes,  2010 4 Ed, Petrópolis  RJ


BROWN, Radcliffe. Antropólogos e Antropologia. Adam Kuper (organizador), 1978. Rio de Janeiro, F, Alves.

BROWN, Radcliffe. Sobre o Conceito de “Função”  em Ciências Sociais, Estrutura Social. Extraído de : PIERSON, Donald. 1970, São Paulo.  Estudos de Organização Social – Tomo II: leituras de sociologia e antropologia social.